terça-feira, outubro 30, 2012

você acorda e pensa num modo mais fácil de não pensar que o dia poderá ser uma merda. você acorda e não quer esse calor invadindo o seu corpo nem esse sol feio nesse céu indefinido de quase chuva. olha pro lado, faz um café, dá uma ajeitada na casa, põe água e comida pros gatos, come uma fruta. fuma o primeiro cigarro. ouve a primeira música. liga o computador e não tem nada de muito novo. quando percebe, tá na hora do almoço e nenhuma fome, mas você tem que comer. você tem que sair e fazer as coisas na rua. tem que trabalhar, fazer sacolão, conversar um pouco com o vizinho. tem que saber da mãe, dos irmãos, dos filhos. tem que se inteirar das notícias do mundo e pensar que o mundo é isso. não se incomodar com o furacão na américa, com o ódio da mídia conservadora nem com o assalto que acabou de acontecer na esquina. tem que esquecer da briga com sua amiga, da desesperança na educação, da noite que escapou por entre os dedos. você olha e vê a vida quase como uma repetição. você pensa e quase não vê sentido nessa coisa toda. aí, de repente, pensa nos amigos distantes, na cerveja gelada, naquele dia na praia, lê alguns versos de seu poeta preferido, vê aquela planta na área que cresceu muito da noite pro dia e o seu gato esticado com a barriga pra cima tentando driblar o calor. lembra dos filhos e de como são bons e bonitos. você entra no banho e a água e o sabonete parecem limpar sua alma. o dia pode não ser mais uma merda.

6 comentários:

Tania regina Contreiras disse...


A síndrome da indifererença ou do automatismo. De repente algo nos salva. Nem sempre, mas acontece. Há vida, ainda há.
Beijos,

Anônimo disse...

Adriana, tem dias que a gente está assim mesmo. Não há banho que limpe essa oxidação cerebral.
Beijos
Manoel

BAR DO BARDO disse...

a água batiza sempre

bom texto

BAR DO BARDO disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Mauro Lúcio de Paula disse...

Adriana,
que crônica linda! "faço minhas as suas palavras", a única diferença do nosso dia a dia é que você coloca o que há de mais importante, a poesia, só isso, a poesia! O seu fica esticado com a barriga pra cima, a minha gata dorme, sonha e ronrona ao meu tempo no sofá.

Luciano Fraga disse...

Adriana, felizmente as coisas passam,sempre bela a sua fala, beijo.